✎ Por Fernanda Fusco
Você finalmente concluiu a sua licenciatura: está com o seu diploma em mãos e apto a "comandar" a sua própria sala de aula. Seja em escolas particulares ou públicas, os desafios que enfrentamos são diários, mas ainda maiores quando somos novos na área e com pouca experiência! Além dos problemas rotineiros e presentes em todas as unidades escolares, a ansiedade e insegurança também nos acompanham no início da carreira!
Em um daqueles momentos em que me lembrava do meu primeiro ano enquanto educadora, resolvi lançar no Facebook a seguinte pergunta para os meus amigos professores:
Com base nas respostas, nas minhas memórias e antigos registros, elaborei esta lista com alguns conselhos para você que ingressou há pouco tempo!
1. Observe, ouça e aprenda com toda a equipe da unidade
É comum sairmos da licenciatura carregados de uma certa arrogância: por mais que saibamos que a realidade em sala de aula possa ser complicada, achamos que temos todas as respostas e muitas vezes julgamos outros profissionais por cometerem erros que nunca cometeríamos (ou que dizíamos que nunca iríamos cometer). Essa arrogância pode acabar nos isolando e nos cegando em relação às coisas boas que acontecem no dia-a-dia da escola!
Meu primeiro conselho é que abra os olhos, os ouvidos, a cabeça e o coração para as pessoas que fazem a escola ser o que ela é. Converse até mesmo com aqueles profissionais que parecem ter princípios ou concepções muito diferentes das suas: acredite, você vai aprender muito com eles! É conversando e entendendo o ponto de vista do outro (mesmo que nem sempre concorde) que superamos também muitos de nossos preconceitos: no meu caso, o que mais me marcou foi perceber que nem todo professor antigo é ultrapassado, estagnado e sem vontade de aprender - inclusive conheci professores com o pé quase na aposentadoria fazendo o que muito professor novinho não tinha coragem de tentar.
Com o tempo, você vai finalmente perceber que estão todos no mesmo barco e com os mesmos objetivos: cada um tentando alcançar de uma forma, mas o objetivo é sempre o de construir conhecimentos e desenvolver os seus alunos. Quem sabe também não rolam algumas parcerias?
2. Planeje, planeje muito!
"Cada minuto planejando as atividades que serão propostas garante uma aula muito mais encadeada e tranquila. As crianças sentem quando a aula não foi planejada e o professor está apenas "indo com a maré" e tendem a reagir da mesma forma: com desinteresse, displicência, falta de vontade. Com a internet e um pouco de paciência, é possível encontrar várias ideias criativas e sequencias didáticas super ricas que ajudam muito no planejamento. O planejamento a curto e longo prazo possibilita ter um olhar panorâmico sobre de onde estamos partindo e onde pretendemos chegar. Enfim, é um tempo muito bem gasto, e embora pareça muito difícil no início da vida docente, a prática vai se tornando cada vez mais ágil com a experiência." Conselho da professora Ekatherina Ugnivenko!
3. Vá com calma: você tem todo o tempo do mundo para treinar suas práticas!
O circo pegando fogo e eu preocupada em dar conta de tudo
Algo que estou aprendendo a controlar nos últimos anos é a ansiedade: são tantas as ideias fervilhando na minha cabeça que me entristeço quando não coloco em prática algumas delas ou não concluo exatamente como planejei. Os planejamentos e cronogramas são ferramentas de apoio ao nosso trabalho, que nos ajudam em nossa organização, mas nos restringirmos a eles pode também ser um problema: com a minha primeira turma, lembro de ficar muito frustrada cada vez que não conseguia concluir a rotina diária exatamente como planejei, mesmo ninguém me cobrando sobre isso! Além disso, é muito importante perceber as necessidades e os interesses dos alunos e fazer adaptações. Nem sempre concluiremos alguma ideia da forma como gostaríamos, mas tenha a certeza de que foi o melhor que conseguiu fazer dentro das suas possibilidades! Você terá muitos anos pela frente para tentar de novo...
4. Não deixe a educação ser a prioridade da sua vida
Dando um tempo pra mim!
Lembre-se sempre desta triste realidade: para o mercado de trabalho, infelizmente, você é apenas um número! Por mais que você se esforce, que doe o seu melhor todos os dias, sempre haverá alguém para te substituir! Não se sinta culpado quando precisar ficar em casa por ficar doente ou ter qualquer outra necessidade pessoal. Coloque-se sempre em primeiro lugar! Por mais apaixonado que você seja pela educação, cuide de sua saúde física e mental, cultive hobbies, tenha também amigos "não-professores", e desligue-se da área nos momentos certos!
5. Abra sempre portas para outros caminhos
Sai da frente que eu tô passando!
No início, pensamos que encontramos o caminho certo e que sempre estaremos realizados enquanto professores. Embora a sua empolgação com a área nem sempre é apenas passageira (vide professores com 25 anos ou mais de carreira que ainda amam ensinar), é importante pensar desde sempre em um plano B. Se você não fosse professor, o que gostaria de ser? Faça cursos relacionados a outras áreas, pesquise, desenvolva novas habilidade, converse com outros profissionais. Mesmo que não atue em outra área, quando se sentir sem chão enquanto educador você sabe que pode sempre seguir por outro caminho! No ano passado, por exemplo, quando eu estava desacreditando de tudo, aprendi a fazer artesanato (por recomendação do meu médico). As peças que confeccionei eu passei a vender na minha loja virtual: isso me deu mais segurança e me fez enxergar outras perspectivas.
6. Empodere e acredite em seus alunos
Vai lá, amigão! Você consegue!
Quando ingressei na Prefeitura e passei a trabalhar em uma escola a cinco minutos de casa, uma ex-colega me parabenizou e disse: "Acho ótimo que você tenha crescido e estudado no mesmo bairro que seus alunos. Muitas vezes quem vem de fora acaba enxergando-os como pobrezinhos, coitadinhos..." Mesmo que não sejam da mesma realidade que a sua, independente do bairro onde moram ou condição social, não encare seus alunos como seres incapazes, passivos, dependentes. Acredite em suas possibilidades: toda pessoa é capaz! Infelizmente nem todos tiveram vivências e oportunidades parecidas com as suas, mas você pode fazer toda a diferença mostrando outros caminhos, vendo-os como seres pensantes, identificando e aprimorando suas inteligências. Aquele cara que tem problemas com alfabetização pode ser um ótimo artista, por exemplo! Valorizando esta qualidade, ele pode se sentir motivado em continuar aprendendo.
e7. Avalie-se todos os dias
Reserve um tempo do seu dia para refletir acerca das suas práticas. Pense tanto nos pontos positivos, para continuar acertando, como nos pontos negativos. Pode ter certeza: os erros serão muitos! O importante é reconhecê-los e tentar melhorar a cada dia, tentando agir de uma forma diferente nas próxima vezes. Use esses erros como ponto de partida para novas pesquisas: procure por textos relacionados, pergunte aos seus colegas o que fariam neste tipo de situação, entre outras resoluções.
No meu último semestre da graduação, em uma disciplina intitulada Profissão Docente (ou algo similar), lembro de uma frase que minha professora Heloísa Aguiar disse e que me marcou: "vocês não vão fazer milagre!". Sempre quando enfrento algum tipo de problema na escola, repito para mim como uma espécie de mantra, e isso me faz colocar os pés no chão!
Serão diversos os tipos de desafios que você enfrentará ao longo dos anos: casos de negligência por parte da família, alunos que testam diariamente a sua paciência, crianças com problemas de aprendizagem ou necessidades especiais, e falta de parceria com a comunidade e com alguns colegas são apenas alguns exemplos. O problema é este: criar muitas expectativas para algo que não depende apenas de você, mas de todo um contexto social e político, de recursos disponíveis, de parcerias, de tempo, de uma quantidade menor de alunos por sala... Procure sempre fazer o melhor dentro das suas possibilidades, mas não se esqueça que nem todas ações, para terem sucesso, dependem apenas de você!
Vamos combinar que não existe uma chave para nos conectarmos e desconectarmos dos nossos problemas: é tão difícil trabalhar bem quando estamos com algum problema em casa, com a família, como o contrário. Da porta da escola pra fora, não é possível arrancar a nossa pele de educador - veja, por exemplo, quando a gente está passeando e encontra algum material interessante, que remete a determinado conteúdo e traz ideias de práticas. No entanto, podemos nos educar para não carregarmos problemas desnecessários, algumas vezes sem solução e que acabam com a nossa saúde, para a nossa vida pessoal: para aqueles que não valem a atenção, procuro me distrair de outras formas, como através dos meus hobbies, por exemplo. É super válido procurar um amigo para desabafar ou até um psicoterapeuta para nos ajudar a lidar com tudo isso!
9. Delimite as suas responsabilidades e aprenda a dizer "não"
É claro que existe um contrato, estatuto ou qualquer outro tipo de documento que delimita os seus deveres: guie-se a partir deles! Mas não abrace o mundo com as pernas, como sempre aconselhou o meu pai. Pode ser que se sinta muito motivado após uma leitura, um feedback, um curso, uma reunião pedagógica... Nestes momentos de energia alta, evite fazer muitos planos e promessas. Acontece que tudo isso pode se acumular como uma bola de neve e no final de algum período (bimestre, semestre, ano) você se arrependa por ter se envolvido exageradamente, não consiga conclui-los e desempenhe um trabalho de baixa qualidade. Mesmo que consiga fazer, a sua saúde e tempo livre estarão comprometidos.
Não é nem um pouco indelicado dizer "não" quando a cobrança vem de fora (de você). Se é algo que os seus pares concordam também em não fazer porque sabem que não darão conta, reúnam-se, conversem com a gestão escolar, justifiquem-se, procurem outras soluções coletivamente e até o sindicato, caso necessário.
10. O que acontece na escola, fica na escola!
Vamos combinar que não existe uma chave para nos conectarmos e desconectarmos dos nossos problemas: é tão difícil trabalhar bem quando estamos com algum problema em casa, com a família, como o contrário. Da porta da escola pra fora, não é possível arrancar a nossa pele de educador - veja, por exemplo, quando a gente está passeando e encontra algum material interessante, que remete a determinado conteúdo e traz ideias de práticas. No entanto, podemos nos educar para não carregarmos problemas desnecessários, algumas vezes sem solução e que acabam com a nossa saúde, para a nossa vida pessoal: para aqueles que não valem a atenção, procuro me distrair de outras formas, como através dos meus hobbies, por exemplo. É super válido procurar um amigo para desabafar ou até um psicoterapeuta para nos ajudar a lidar com tudo isso!
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11. Pense na sua realidade e adapte a teoria à sua prática
Voilá!
Desde quando cursava Pedagogia, sempre ouvi a frase: "Na teoria é uma coisa. Na prática, outra!". É comum nos frustrarmos por tentar colocar em prática alguma experiência baseada nos livros ou artigos que lemos, esperar determinado comportamento ou envolvimento dos alunos e de toda a comunidade escolar, e no final acontecer de tudo, menos o que idealizamos.
Normalmente as teorias da educação foram baseadas em pesquisas realizadas a partir de realidades diferentes da nossa, mas não significa que não funcione se não fizermos as adaptações adequadas. Vamos pensar, por exemplo, na psicogênese da língua escrita de Emília Ferreiro: fizemos a sondagem com todas a turma, identificamos que cada criança está em um nível diferente de leitura e escrita e agora precisamos dar uma atenção maior para aqueles que são pré-silábicos, mas não temos tempo hábil pra isso. Comece pensando na sua realidade e qual a sua prioridade no momento: nem sempre você vai conseguir dar atenção exclusiva àqueles que necessitam, mas você pode organizar atividades esporádicas em sua rotina que contemplem os mesmos conteúdos com a turma toda e direcionar de forma diferente a cada aluno: os alunos podem fazer uma cruzadinha; enquanto os alfabéticos fazem sozinhos, os silábicos fazem com o auxilio de um banco de palavras, e você pode dar aquela atenção especial aos pré-silábicos (ou a apenas um aluno por dia, mesmo que seja por 15 minutinhos). Não conseguiu? Não desanime! O importante é continuar tentando, estudando e adaptando da melhor forma que puder!
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Quando parecer que você está sem chão, quando parecer que nada tem solução, pense em todo o seu percurso e lembre-se de tudo o que fez e que já deu certo! Eu concordo que é desanimador pensar que mesmo com todas as intervenções que proporcionou, três de seus alunos ainda não são alfabetizados; mas já parou para pensar nos outros trinta e dois que já estão lendo graças à sua dedicação? Já parou para pensar que mesmo em uma sala de aula que parece não aproveitar nada do que você tem a oferecer tem aquele aluno que você inspirou?
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13. Acredite na educação e deixe a utopia te mover
Pouco antes de começar a cursar Pedagogia, quando ainda digeria a ideia, tinha aquele pensamento utópico de ingressar na rede pública e fazer a diferença construindo uma educação de qualidade. De certa forma, é esta utopia que me move e me mantém na área: embora eu tenha plena convicção de que não consigo atingir a todos, mesmo que eu faça a diferença para um dos meus vinte e dois alunos anuais (e que, enquanto professora de informática, chegava a uns quatrocentos) eu já me sinto realizada!
14. Fuja de profissionais frustrados
VALEUFALOU
Okay, já aprendemos que é preciso construir um ambiente de diálogo, compreensão e tentar parcerias com nossos pares: mas nem sempre há pessoas ali prontas para somar e multiplicar! Com o convívio frequente, existem pessoas que sugam nossas energias e conseguem nos colocar pra baixo até mesmo com um simples comentário. Se perceber que não está te fazendo bem, evite contato! Seja educado como se deve ser, é claro, mas tente relevar. E, no seu ambiente de trabalho, procure se cercar de pessoas otimistas e que, assim como você, também acreditam na educação!
Confesso que, mesmo com oito anos de magistério, me senti bastante confortada ao ler os comentários e escrever esta publicação. Espero que nós tenhamos te ajudado de alguma forma! E nunca se esqueça: você não está sozinho! =)
Bela reflexão, professora! Seria legal promover encontros presenciais e discutir um texto como esse! São tantos detalhes na vida profissional a que não damos atenção. Um trabalho assim de recolher depoimentos e pensar a respeito deles é fundamental!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, professora querida! <3 Sabe que nunca havia parado pra pensar sistematicamente nesses detalhes? Só depois que parei pra escrever que vi quanta coisa a gente precisa refletir a respeito... O legal é que serviu para me motivar tb!
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