Graças ao isolamento social, o contato direto com a natureza infelizmente não faz parte da realidade de muitos bebês e crianças, que estão restritos às suas moradias e cercados por paredes de concreto. Esse contato com o meio ambiente e os elementos naturais é essencial para o desenvolvimento dos pequenos e sua ausência, de acordo com pesquisadores, pode causar o déficit de natureza, responsável por problemas físicos e mentais como a obesidade, a depressão, a hiperatividade e o déficit de atenção.
Frutinhas encontradas no parque. Arquivo pessoal de Fernanda Fusco.
De acordo com as autoras Eulália Bassedas, Teresa Huguet e Isabel Solé:
As crianças dessa faixa etária constroem teorias bastante coerentes em si mesmas, porém pouco adaptadas à realidade. A interação e o conhecimento do ambiente permitem a elas irem construindo interpretações mais ajustadas e mais potentes para continuar aprendendo sobre o funcionamento do mundo que as envolve. (Aprender e ensinar na Educação Infantil, p. 72)
Dentre outros benefícios, estão a criatividade, a imaginação, a motivação, além da admiração e cuidados com o meio ambiente. A partir da exploração da natureza, os pequenos também estimulam a curiosidade, fazem novas descobertas e desenvolvem a inteligência naturalista.
Fala, Prô! indica: live coordenada por Ana Carol Thomé com a participação do educador Paulo Fochi
A pedagoga e coordenadora do programa Ser Criança é Natural, Ana Carol Thomé, destaca que a recomendação das instituições sanitárias é de que ocupemos os espaços externos para evitar a propagação da doença. Reforça ainda que, embora o coronavírus sobreviva por alguns dias em superfícies como papéis, plásticos e metais, não há nenhum estudo conclusivo acerca dos elementos naturais (e esses são facilmente descartados sem causar impactos negativos ao meio ambiente). Considerando essas informações, reunimos neste post algumas sugestões de vivências com elementos naturais que podem ser realizadas fora das salas de referência e respeitando o distanciamento social. Agradecemos à coordenadora pedagógica Márcia Trípodi pela indicação de alguns materiais!
É parte da vida saudável de bebês e crianças o contato com a natureza: ouvir histórias e brincar na sombra das árvores, fazer cidades e estradas no tanque de areia, escalar uma escada de corda amarrada a um galho de árvore, balançar numa rede ou num balanço amarrado a um galho de árvore, brincar com barro, terra e água, produzir e brincar com objetos ao vento (pipa, biruta, cata-vento), lavar os brinquedos, participar de jogos de movimento ou simplesmente observar a natureza, ouvir um canto de pássaro, visitar as flores do jardim, acompanhar o crescimento das verduras na horta ou de uma planta. (Currículo da Cidade: Educação Infantil, São Paulo, p. 97)
Horta pedagógica
As hortas são muito recorrentes no contexto da Educação Infantil, já que aproximam o contato com a terra, a observação do nascimento da semente, o crescimento da plantinha, o cuidado de um ser vivo e a colheita do alimento: que tal aproveitar esses momentos nos ambientes externos para dar continuidade ao projeto da sua unidade? Caso ainda não tiraram a ideia do papel, este é um ótimo momento para colocá-la em prática! O Instituto UMAPaz, no momento pré-pandemia, oferecia uma série de cursos presenciais sobre horta e jardinagem para o público geral, inclusive para os profissionais de educação do município de São Paulo: acesse sua biblioteca virtual para aprender um pouco mais sobre o preparo e cultivo! Recomendamos também a leitura do material Horta: A escola promovendo hábitos alimentares saudáveis, elaborado pelas pesquisadoras Clarissa Hoffman e Patrícia Martinz em 2001 para o Ministério da Saúde.
Crianças colhendo rúcula. Arquivo pessoal de Fernanda Fusco.
Caso não haja um espaço adequado para colocar o projeto em prática, uma opção também é confeccionar vasos com materiais reaproveitados para que cada criança fique responsável por sua plantinha! Outra ideia é fazer experimentos com as sementes encontradas pelos pequenos nos ambientes externos: façam pesquisas para descobrir de que são essas sementes e plantem, mesmo os adultos sabendo que não vão germinar; deixem as sementes em diferentes ambientes (com luz, sem luz, com muita água, com pouca água, em terra, em algodão, etc.) para saber em quais condições elas germinam e crescem fortes; proponha que as crianças façam um registro diário através de desenhos e façam marcações no calendário a cada evento importante (primeiro plantio, germinação, primeira folha, primeira flor, etc.).
Aproximem também os pequenos de contos indígenas e curiosidades sobre os diferentes povos, como o vínculo ancestral com a terra e a natureza. As músicas dos povos originários, por exemplo, podem fazer parte dos momentos de plantio, cuidado e colheita: Kworo Kango, do povo Kayapó, faz parte do rito de fertilização do solo para o plantio da semente de mandioca.
Em um dia quente, disponibilize baldes, caixas plásticas ou até potes de sorvete com água para os pequenos explorarem. Dependendo da faixa etária, a brincadeira pode ser complementada com conchas, pedrinhas, gravetos, folhas... Com o propósito de respeitar o distanciamento social, uma opção é disponibilizar uma toalha, tecido ou esteira para que cada um deles faça de conta que está na praia - em breve, traremos um relato de prática com essa brincadeira! Em um outro momento, caso a unidade permita que as famílias enviem objetos de casa, as crianças podem ser convidadas a lavar seus brinquedos.
Outra opção de brincadeira é com as caixas sensoriais, que podem ser oferecidas até em espaços cobertos nos dias chuvosos: "recheie" cada caixa com terra, areia, arroz ou pedrinhas e deixe que as crianças explorem livremente, utilizando talvez brinquedos para construir suas narrativas!
Coleta e classificação dos elementos naturais
De acordo com Daniela Maia, professora de Educação Infantil do município de São Paulo, os espaços externos são os laboratórios onde os pequenos podem assumir papéis de pesquisadores, cientistas ou até detetives da natureza e a exploração dos elementos naturais permite que conheçam as diversas cores, texturas e formatos. Convide as crianças a explorar os parques (ou outros territórios) e a buscar por sementes, pedras, gravetos, folhas, entre outros. Para esta vivência, você também pode oferecer lupas e lanternas (devidamente higienizadas) e propor para que guardem esses "tesouros" em sacolas de tecido, caixas ou mesmo em cestas individuais, formando assim coleções particulares. Após a busca, leve-os a categorizar, comparar, contar, registrar as descobertas através de desenhos e a brincar com esses elementos.
Fala, Prô! indica: vídeo Casinhas e guisadinhos no Vale do Jequitinhonha, produzido pelo Instituto Alana para o Território do Brincar
Arte com elementos da natureza
Após a coleta de elementos naturais, há também uma variedade de possibilidades envolvendo as artes plásticas: pintura de pedras, colagem ou frotagem com folhas, confecção de pincéis com gravetos, modelagem com argila, confecção de mandalas, bijuterias, penduricalhos, entre muitas outras (deixamos abaixo fotos com algumas sugestões). As tintas, por exemplo, podem ser feitas de especiarias (canela, urucum, açafrão, café), terra ou argila com água e, para além dos papéis, podem usar como suporte o chão, as paredes, um chão de terra...
Aproveite neste momento para aumentar o repertório dos pequenos e apresentar artes dos diferentes povos indígenas, como cerâmicas, pinturas corporais, vestimentas, colares. E que tal propor uma mostra? Em uma de nossas publicações, a professora Ekatherina Ugnivenko sugere a organização de uma exposição de arte. Lembre-se que o importante aqui é que as crianças entrem em contato com as diferentes materialidades e experiências artísticas, usando talvez artistas plásticos e diferentes povos como inspirações - e não como modelos prontos a serem copiados!
Leitura ao ar livre
Já sabemos que a leitura e suas diferentes estratégias (ler por prazer, ler para pesquisar, ler para aprender, etc.) contribuem para o desenvolvimento do comportamento leitor, da escuta, aumenta o repertório, amplia o vocabulário, a criatividade, assim como o interesse pelo mundo letrado. Escolha um ambiente bem agradável fora da sala de referência (seja embaixo de uma árvore, de um quiosque, de uma cobertura improvisada com tecido) e promova diariamente momentos de leitura: leitura de verbetes de enciclopédia para descobrir mais sobre os insetos que habitam a escola; leitura deleite de livros de literatura infantil envolvendo fenômenos naturais, elementos da natureza, seres vivos, contos africanos e indígenas; leitura de notícias da semana ou mesmo da previsão do tempo para se informar; leitura de biografias para conhecer histórias de mulheres empoderadas; assim como a leitura para aprender as regras de um jogo ou brincadeira. Após os momentos em que os bebês e crianças manusearem seus livros (individualmente), separe-os e isole-os por 15 dias, para então oferecê-los novamente.
Dicas de alguns livros que podem compor esses momentos!
Sugestões para casa
Outra possibilidade é propor para que as famílias deem continuidade a esse contato em casa. Ellen Marçal, professora de Educação Infantil da rede municipal de São Paulo, idealizadora do Pegagomamy e mãe do Dudu, reuniu em um vídeo algumas ideias de brincadeiras com elementos naturais para serem realizadas no contexto familiar.
No entanto, vale refletir: sabemos que além de aprenderem com as brincadeiras e materialidades, a interação com o outro também é essencial para o desenvolvimento dos bebês e crianças. O retorno à escola, na perspectiva de um distanciamento social, respeita essa infância?
O Fala, Prô! é contra a volta às aulas enquanto o Brasil for o epicentro da atual pandemia de COVID-19. Nossas publicações têm como propósito trazer reflexões e sugestões de vivências que contribuam para a realidade de professoras, professores e demais funcionários, já que instâncias públicas e instituições privadas insistem no retorno.
Que legal e que honra participar e compor um trecho dessa matéria! A natureza é rica em possibilidades de exploração, pesquisa e inúmeras descobertas e basta com que os adultos permitam essas explorações. Quando fiz o vídeo sobre as sugestões foi numa perspectiva de abranger o tema em casa ou mesmo trazer possibilidades de explorações com as crianças pequenas que estão na fase oral. Hoje após 6 meses e com a possibilidade já ir aos parques, precisamos apenas possibilitar esses passeios e permitir que as crianças criem conexões com a natureza e que seus olhinhos curiosos sejam seus guias. Basta observarmos para ver as maravilhas q encontram. Buracos, cascas, pedras, tudo vira pesquisa e descobertas.
Que legal e que honra participar e compor um trecho dessa matéria!
ResponderExcluirA natureza é rica em possibilidades de exploração, pesquisa e inúmeras descobertas e basta com que os adultos permitam essas explorações.
Quando fiz o vídeo sobre as sugestões foi numa perspectiva de abranger o tema em casa ou mesmo trazer possibilidades de explorações com as crianças pequenas que estão na fase oral. Hoje após 6 meses e com a possibilidade já ir aos parques, precisamos apenas possibilitar esses passeios e permitir que as crianças criem conexões com a natureza e que seus olhinhos curiosos sejam seus guias.
Basta observarmos para ver as maravilhas q encontram. Buracos, cascas, pedras, tudo vira pesquisa e descobertas.